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quarta-feira, 9 de maio de 2012

Artigo - O Currículo Novo


O currículo novo
por Heber Soares
O que podemos chamar de currículo novo? Ou melhor, o que é esse currículo novo? Quando tratamos a Aprendizagem Sistêmica, ressaltamos a necessidade do treinamento efetivo das habilidades sociais como exigência para o século XXI e observamos essas habilidades dentro de um “currículo novo” a ser trabalhando nas escolas.

Mas este currículo não é tão novo assim. Os estudiosos o entendem como “currículo oculto” e descrito desta maneira: “envolve, dominantemente, atitudes e valores transmitidos, subliminarmente, pelas relações sociais e pelas rotinas do cotidiano escolar” (MOREIRA, 2007).

Assim, ele faz parte dos processos naturais que ocorrem na sala de aula e se desencadeiam de forma mais ou menos implícita. Fazem parte deste currículo: rituais e práticas, relações hierárquicas, modos de distribuir os alunos por agrupamentos e turmas, regras e procedimentos, modos de organizar o espaço e o tempo na escola.

O currículo novo, portanto, é uma parte do ensino e aprendizagem que não é oficialmente reconhecida pelo corpo docente da escola, nem mesmo pelo corpo discente, mas que tem um impacto bastante significativo, já que geralmente é determinado por valores, atitudes e condutas apropriadas.

Podemos observar nas unidades escolares que o conteúdo que trabalhamos é o mesmo de  décadas atrás e as novas tecnologias inseridas nas escolas não apresentam a evolução na metodologia.

Nossos alunos não chegam à sala de aula como páginas em branco; trazem consigo um prévio conhecimento de mundo. Este prévio conhecimento faz parte de uma base para o trabalho com o currículo novo.

Não podemos entender que os alunos irão reagir ao currículo oculto de forma idêntica a ser observada em todos. Os indivíduos são distintos e particulares, com características próprias inerentes ao ser e ao meio que convivem. Sendo assim, a nova escola deve reestruturar o currículo de forma que possa atender o conteúdo acadêmico associado ao conteúdo de habilidades sociais necessárias ao desenvolvimento do aluno do século XXI. Não formamos alunos para serem eternamente alunos, mas formamos cidadãos, profissionais do futuro para exercerem funções diversas.

Vygotsky, relativo à Zona de Desenvolvimento Proximal, diz que “aquilo que a criança é capaz de fazer com a ajuda de alguém hoje, ela conseguirá fazer sozinha amanhã” e, norteando-nos por sua fala, podemos entender que não somente os conteúdos acadêmicos desenvolvidos nas salas de aula são inerentes de prática subjetiva futura, mas também as habilidades sociais e práticas de convívio trabalhadas no currículo novo.

Ao tratar do currículo oculto, Bautista-Vallejo. (S.D.E.) ressalta essa sua característica essencial de estar implícito em nossas ações, observando que no interior da sala de aula ocorrem coisas que dificilmente poderiam ser descritas e que têm uma leitura complexa. Além disso, também acontecem outras que, inclusive, escapam de nossas mãos, ouvidos, olhos, estratégias, etc. Assim, o que muitas vezes, se torna evidente, e a duras penas, é que há uma série de processos complexos que se iniciam na sala de aula e que determinam ou determinarão condutas posteriores, perspectivas finais e pontos de vista ou pautas de ação no ser educado.

Muitos desses processos se desencadeiam na rua, na família, na turma de colegas, na própria classe, através do professor e seriam de difícil leitura; poderíamos dizer ainda que, imersos em uma naturalidade e espontaneidade, apresentam-se para condicionar as condutas e as dinâmicas de uma forma subjacente.

SILVA (2006) aponta que: “um aspecto fundamental quando se fala em organização do currículo escolar é a forma como se avalia as aprendizagens que os alunos efetivam durante seu desenvolvimento.” Com isso, estamos querendo dizer que currículo e avaliação da aprendizagem escolar, são faces indissociáveis de uma mesma moeda e que, portanto, ocorrem simultaneamente.

O conceito de que a avaliação da aprendizagem dos alunos seja um processo distinto do desenvolvimento curricular tem sua origem com a pedagogia tradicional e ainda se faz presente em uma grande parte das unidades escolares, apesar de um questionamento constante. Quando este conceito prevalece, a avaliação da aprendizagem acontece com a aplicação de instrumentos tradicionais como questionários, provas, trabalhos escritos em geral, em períodos regulares (final de cada mês, ou bimestre ou semestre). Além disso, tem também o objetivo de verificar a quantidade de informações que os alunos assimilaram naquele período e classificá-los em notas ou conceitos tratados como se fossem notas. Quando a concepção vai além da classificação, preocupando-se com o processo de aprendizagem ao longo do desenvolvimento curricular e ocorrendo por meio de um acompanhamento do aluno com o objetivo de reorientá-lo a cada dificuldade encontrada, situa-se na perspectiva formativa.

Os dois meios de avaliação são necessários quando pensamos na indissociabilidade currículo-avaliação. A primeira para identificarmos problemas do currículo, fornecendo pontos para a melhoria do planejamento docente e escolar. A segunda, porque possibilita uma intervenção imediata no processo de aprendizagem, permitindo que o currículo em desenvolvimento se reconstrua ainda durante o processo e comprovando, assim, sua natureza dinâmica e permanente no atendimento das necessidades dos alunos.

E é esta segunda forma de avaliação que na Aprendizagem Sistêmica se utiliza das estruturas – atividade realizada em sala de aula em duplas ou grupos de alunos, como fonte de enriquecimento. Como sabemos, as estruturas trazem consigo o trabalho e exercício efetivo das habilidades sociais, facilitando e muito o trabalho do conteúdo acadêmico sem interromper o seu desenvolvimento para se trabalhar as habilidades.

Estruturas como a Troca Cronometrada trabalham o conteúdo acadêmico com o compartilhamento de informações entre duplas de alunos ao mesmo tempo em que as habilidades sociais são trabalhadas. Podemos elencar no exemplo da estrutura Troca Cronometrada as seguintes habilidades sociais trabalhadas: aceitar parabenização, saber ouvir o colega, honestidade, compreensão checada, contribuição de ideias, o discordar apropriadamente bem como o encorajamento de contribuições. Os alunos nesta estrutura também trabalham a paciência, o silêncio, a tolerância, o trabalho em equipe, a inversão de papéis, o respeito às diferenças, o compartilhamento e a responsabilidade.

“A juventude de hoje geralmente vem para a sala de aula mal preparada par ser um bom colega de equipe. A Aprendizagem Sistêmica nos motiva a desenvolver habilidades sociais que servem para a sala de aula e além.” KAGAN & KAGAN.

Bibliografia
KAGAN, Spencer & KAGAN, Miguel. Kagan Cooperative Learning. San Clemente – CA, Kagan Publishing.
SILVA, Maria Beatriz Gomes da. Organização curricular da escola e avaliação da aprendizagem. 2006. Disponível em: http://www.pead.faced.ufrgs.br/sites/publico/eixo5/organizacao_escola/modulo2/texto_base.pdf, acesso em 12/04/2012.

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